quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

CALOR

O cochilo tradicional depois do almoço começou a virar um tormento pra ele. O coitado acorda como se tivesse voltado de algum universo paralelo com um tremendo tranco no cérebro. Levanta... E segue de um olho aberto outro não incomodado com a luz. No banheiro uma mijada atômica invergada, devido a ereção matinal involuntária. A casa está um verdadeiro forno de microondas, e ele se sentindo um verdadeiro milho de pipoca no saquinho, tendo que se virar com o calor até achar um cantinho e se adaptar ao ambiente.

O suor escorre pelo rego. Corre pra sala, deita no sofá, levanta, deita no chão. O sofá parece imundo com marcas de suor enormes e cheiro de bunda. Há furos nele, poeira e também cheiro de mijo, provavelmente que vazou da fralda geriátrica da sua vó. E no chão em frente à TV se irrita. Vento quente passa por debaixo da porta, chega até seu rosto, do chão ele se levanta.

E vai pra cozinha, abre o copo de liquidificador, joga duas bananas dentro, duas colheres de leite em pó, uma de açúcar.
Abre a geladeira, garrafas com água quente, a geladeira não dá conta. Há melancia nela e nele a preguiça mórbida de se livrar dos caroços... Pega um faca e um copo no escorredor, vai pro congelador. Começa a raspar aquelas placas de gelo, junta e bate tudo, tá pronta a vitamina de banana.

Vai pro banheiro, abre o chuveiro, água da caixa exposta ao sol vem. Cai fora daquele bafo, pelado toma banho no chuveirão do quintal. Água geladinha da rua escorre pelo corpo... Vizinhas o espiam de suas janelas enquanto executam suas tarefas domésticas. Sai do chuveiro, a toalha nem usa, não há necessidade. Veste a roupa e nem bem passa muito tempo e já está seco.

Vai pra varanda, deita na rede. Na rua pessoas com o mínimo de roupas possíveis. Um desfile de sombrinhas acontece... É gente com rodelas de suor em baixo do braço, fedô de macaco, cheiro de carniça. Cadê os urubus? Sai na rua, corre na budega compra geladinho. Descalço ele foi, penando correndo ele volta. Dez geladinhos, no meio do caminho a sacola rasga e enche-os de terra. Em casa abre a torneira e sob água corrente lava aqueles gelos coloridos com sabores.

Volta pra varanda, da um chupe no de umbu, no de manga... Chega no de abacaxi, morde e cospe fora: fruta estragada. Arremessa o geladinho na rua. Um menino grita eta, peste. O geladinho pega em seu olho e a mãe dele foi ofendida. O menino atingido era um verdadeiro cabra da peste e acabou recebendo o resto dos geladinhos... Pronto, estava tudo certo. No banco da praça manga-rosa verde com sal rolava.

1 comentários:

Paloma disse...

Simplesmente o seu melhor texto que me recordo ter lido.