MEMÓRIAS DE QUEM QUASE TEVE UM COMPUTADOR

Ele acordou com os berros da sua tia, nem oito horas da manhã era ainda:

- Juninho, Juninho! Seu computador chegou, foi seu tio do Rio que mandou!

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Ainda de olhos fechados, respondeu em forma de grungidos, respirou um pouco e depois chegou à Terra. Deu um pulo da cama, e num pinote chegou até o computador. Foi inevitável, logo ele associou: computador --- > Rio de Janeiro --- > amiga virtual do Rio. E depois internet... Foram os primeiros pensamentos num curto espaço de tempo.

E lá estava a caixa, com jornais cobrindo a parte superior e bastante fita adesiva. Aquilo realmente foi uma surpresa pro cidadão, não suspeitou de nada. De cara começou a ficar deslumbrado quando viu que a caixa era de um Positivo, tela plana, de última geração - tão inocente o bichinho, mas dá um desconto gente, ele não parou pra pensar que aquela caixa não necessariamente trazia o que era descrito por fora, ainda mais era muito cedo, ele tinha praticamente caído da cama...

Daí ele partiu pro ataque e começou desesperadamente a tirar as fitas adesivas, depois o jornal e pensando caralho, ele mandou um computador novinho pra mim. PRA MIM? Mas seu sorriso pós-jornal não foi dos melhores, deu uma amarelada. O cartão de visitas [?] daquele presente, um teclado amarelado e grudento, denunciava que aquilo não era presente de verdade em seus primeiros pensamentos - nossa eu posso ler pensamentos, viu?

Assim mesmo, depois do baque, ele decidiu ser otimista e ligar o PCzinho, na maior alegria do mundinho - é pra rimar e não ficar tão amarguinho. Olha, até que não é ruim não, é rápido... pensou ele. Isso até o computador reiniciar e seu otimismo começar a se desintegrar. Mas... Ah, é normal. Depois não vai acontecer de novo. E a coisa reiniciou, reiniciou e reiniciou.

A partir daí começou a sua saga. Leva micro prá, leva micro pra cá. Falaram que poderia ser a fonte, depois bateram e assopratam dizendo que seria caso de limpeza a aplicação de pasta térmica por 50 paus - que limpeza do caralho é essa? E falaram de um tal de coller... Por fim assutaram o cara com a placa mãe e HD. O coitado realmente ficou sem saber em quem acreditar, totalmente desnorteado. Foi quando o computador decidiu não mais nem iniciar e ele desistir de todo esse vucu-vucu.

A CPU foi a primeira a levar as pancadas que tanto merecia, e bem dadas. Depois foi a vez do teclado nojento ser a primeira vítima de sua fúria, voando letrinhas pra tudo quanto é lado. Mas deu pra ver que aquela descarga de energia, de fúria num quebrar de teclado, estava lhe fazendo bem. Deu pra ver em seu semblante, era quase um gozo junto com terapia. Foi quando vi que devia parar, senão alguém ia ver tubo do monitor CRT pelado e coisas do tipo.

A frase que ele mais ouvia sendo soprada ao seu ouvido por mim era esfriar a cabeça - esfria a cabeça Junior! E naquela hora não lhe restava mais nada a não ser correr pro banheiro e literalmente esfriar sua cabeça. Ali ele passou mais tempo do que costumava passar. Ficou só sentindo a água escorrer pelo seu corpo, estava bom, parecia que seu ódio ia escorrendo até cair pelo ralo.

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O banho longo me deu uma sede de mostro, foi tanta água que passei pela cozinha e pra completar bebi quase meio litro de água bem geladina. Por fim pra me sentir mais aliviado e completar a bizarra terapia, decidei escrever esse texto aqui.