quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Heitor Dhalia, Cineasta...
Heitor Dhalia #01
Conheci o trabalho de Heitor Dhalia a pouco tempo. O primeiro filme que assisti dele foi O Cheiro do Ralo (2006). Uma das coisas que me chamaram a atenção foi o título do filme, que foge totalmente dos títulos que costumamos ver no cinema nacional... O Heitor faz filmes imprevisíveis, que fogem completamente daquilo que imaginamos quando pensamos em cinema nacional, ele faz um cinema mais alternativo.
Nossa... O filme? O filme é um charme, com generosa fotografia urbana paulistana e trilha sonora estupenda. Aliás, o que me enfeitiça nos filmes de Heitor Dhalia, é o cenário urbano paulistano como plano de fundo. Cidade essa que já morei por sete anos e tenho uma saudade enorme de lá. Gosto de lá, dada garoinha, do agitação, da correria, do cinza do centro velho, dos enormes prédios... Enfim, apesar de não estar morando em Sampa, eu a amo loucamente, um dia voltarei lá, nem que seja pra uma visitinha. Mas tá bom, chega de nostalgia, e voltamos ao que interessa - me desculpe pela fuga do assunto!
O Cheiro do Ralo é o seguinte: Lourenço (Selton Mello), se apaixona por uma bunda. Sim, ele não se apaixona pela moça por causa da bunda, mas simplesmente pela bunda. Essa bunda, tão desejada por ele, pertence a uma garçonete (Paula Braun) de uma vagabunda lanchonete, aqual todos os dias ele tem que se submeter a comer aqueles lanches que não lhe dessem nada bem. Mas o esforço não é inútil. Todos os dias ele fica ali, a admirar e sonhar em um dia ter aquela bunda, todinha pra ele. Mas Lourenço não quer a bunda assim, sem mais nem menos. Ele não quer simplesmente que a garçonete se renda aos seus galanteios e pronto. Não, assim pra ele não tem graça, até por que não está afim de cobranças. Aliás, cobranças essas que fizeram desmanchar um noivado que já se encaminhava ao altar.
Para pagar suas contas, Lourenço possui uma espécie de antiquário. Ele compra os mais variados artigos usados, fazendo as vezes as pessoas se submeterem à situações um tanto quanto constrangedoras. Ele se aproveita, mesmo, das necessidades daqueles que por lá passam. Dentre essas avaliações entre comprar e não comprar, ele busca algo para saciar essa obsessão pela bunda, que até por ela, ele está disposto comprar. Porém, em seu dia-a-dia, ele acaba comprando um olho postiço, que não perde tempo e logo diz que foi do seu pai... Inventa ter sido do seu pai que participou da 2º Guerra Mundial. Ali ele segue tentando construir um pai que ele não teve.
Esse seu trabalho e o amontoado de coisas ao seu redor, esse compra-compra, não deixa de ser uma forma de preencher o vazio que nele se encontra. Enquanto tudo isso acontece, no banheirinho do galpão onde ele trabalha exala o cheiro do ralo. Lourenço acaba tomando um prazer estranho com um misto de poder que ele conquista sobre essas pessoas que chegam lá para vender suas coisinhas. Pra ele, o cheiro do ralo é afrodisíaco. Ao inalar aquele cheiro peculiar, é como se Lourenço se encontra-se com ele mesmo, ali, no ralo, onde tudo que não agrada, que ninguém quer ver e sentir vai parar.
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Heitor Dhalia #02
Eu tenho uma teoria. Os indivíduos se dividem em duas categorias: os ordinários e os extraordinários.
Os ordinários são pessoas corretas que vivem na obediência e gostam de ser obedientes. Já os estraordinários são pessoas que criam alguma coisa nova, todos que infringem a velha lei, os destruidores.
Os primeiros conservam o mundo como ele é. Os outros movem o mundo para um objetivo, mesmo que pra isso tenham que cometer um crime.
Assim começa o filme Nina. Primeiro longa de Heitor, livremente baseado na obra Crime e Castigo de Dostoiévski.
Nina, é um mergulho na loucura. É um filme que você não sabe ao certo o porquê de Nina (Guta Stresser) estar naquele estado de loucura, o porquê de estar como inquilina de uma senhorinha (Myriam Muniz) crí-crí, avarenta, a filha da puta do dona Eulália, a qual deve até as calcinhas. Simplesmente vemos uma parte da vida dela. O filme acaba e Nina passa.
Novamente Heitor abusa do cenário urbano, que para esse filme é cruelmente hostil e opressor, bem sombrio. Há ainda pinceladas de mangá que deixam um belo suspense no ar, desnhos que fica por conta de Lourenço Mutarelli. Mutarelli, que além de desenhista é escritor - o filme O Cheiro do Ralo foi baseado no livro dele homônimo - e ainda se aventurou como ator, dando a um de seus personagens, o guarda lá do galpão onde Lourenço amontoa suas tranqueiras
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Fotos:
- Heitor Dhalia: Reprodução
- Pôsters: www.adorocinema.com.br
1 comentários:
Querido Marcos, me lembro ao final do filme "Nina" ter ficado em transe.
É um filme totalmente cheio de detalhes, o que resulta em uma obra de arte simples, singela.
O cheiro do ralo, é tão único que não me remota nenhum outro filme, ou lembrança. O que quer que seja...
Selton Mello é magnífico.
E bendita a hora em que selecionaram a Guta Stresser para fazer o papel de Nina.
Mara!
Tens um gosto muito bom... como se me surpreendesse... você é todo culto! hahah...
Beijooo e feliz natal \o/\o
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